quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Ágora
Hypatia: filósofa, mulher digna de respeito, defesa e admiração, alvo de discórdia, inveja e revolta. Se as circunstâncias em que estava envolvida não eram propícias para que desse a ensinar ao mundo aquilo para o qual não estava preparado, então foram elas próprias que ditaram o seu destino. Num mundo em que a fé é de todos e de nenhuns, em que um dia se é venerado, no seguinte proscrito e que a olhos vistos o que demorou séculos a contruir, descobrir e desenvolver é deitado por terra cresceu uma verdadeira figura pioneira que poucos conhecem, mas a quem tantos mais devem.
Parece ser sempre conveniente, ou digamos tendencial que se publicite uma história destas, que a personagem à roda de quem gira, mudou o curso da história e este não mais seria o mesmo. À sua pequena grande maneira é verdade. A história do cinema essa é que não mudará depois da estreia deste Ágora - não por não ser digno, mas porque não parece ser adequado a uma distribuição em massas. Para todos aqueles que viram o trailer, não podem ter deixado de achar que, esteticamente, se tratava d' A Paixão de Cristo 2 - aliás não os podemos culpar; Ágora não é um filme feito para ser resumido em 2 minutos, mas para ser contado em 2 horas.
É certo que toda a mística da civilização egípcia - romanizada ou não - desperta um interesse e é sempre uma mais valia numa história nela ambientada, mas isso aliado a uma história que vale por si só, a uma forte mão ao leme e uma vontade de aprender com o entretenimento, melhoram tão mais a matéria. Não há, nem pode haver, em pleno século 21 nenhuma história que se queira desta magnitude, que não veja factos Históricos manipulados, datas alteradas em favor de uma narrativa mais fluida; mas também sabemos que não podemos acreditar como sendo real todo e qualquer facto, toda e qual personagem. Ágora romanceia personagens e acrescenta factos, mas para tal temos os livros de história, convidados à visita para quem quiser, aprender um pouco mais.
Pela mão de Alejandro Amenábar, somos conduzidos para o meio de uma torre de Babel, para um mundo efervescente de conhecimento em que uma mulher procura e conjectura respostas no céu, que só séculos depois teriam aceitação global. Algo que Amenábar soube fazer, e bem, foi introduzir, espaçadamente, o outro lado da observação. Se nós ao olharmos para o céu da noite vemos o infinito sem o compreendermos, então a câmara também olha para baixo, do alto de milhares de kilómetros,para uma Terra fascinante com múltiplos e confusos sons que não entendemos. Isto é saber fazer bom cinema sem precisar de muito dinheiro. É saber usar um elenco de quase desconhecidos (à excepção de Rachel Weisz) e transformá-los nas personagens que foram convidados a encarnar.
Agora
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