A expressão que serve de título a este post leva-nos a um outro blog que conta as crónicas na cidade em que estive na semana que passou. Sempre que algum amigo nosso parte para Erasmus já vai começando a ser praxe, que nos convide a visitá-lo; todos dizemos que sim, poucos, de facto cumprimos. Desta vez, cumpri. A distância não era muita, a duração da estadia também não, lá foi o Mini cruzar a sua primeira fronteira.
É uma falha da minha parte conhecer tão pouco da Espanha continental; um país com o qual uns têm paixões e outros implicâncias, um país sobre o qual sabemos muito não sendo correspondidos, uma nação com a qual, incontestavelmente, temos muito em comum. A minha curiosidade com Salamanca nasceu após ter visto um filme que apesar da qualidade menor despoletou um fascínio maior. Ter onde ficar e quem nos receber ajudou e motivou em muito a satisfação desta curiosidade.
Cruzada a fronteira, passado um trio de horas e quilómetros, acusávamos a normal fadiga, mas não escondíamos o verdadeiro entusiasmo. Ser um patriota nato não afasta o alvoroço da partida, e alegria de passar qualquer fronteira – já desde miúdo que o simples facto de entrar num aeroporto me despertava um entusiasmo que em palavras não cabe (panca n.º 135). É um novo país, um novo povo, uma nova língua, uma nova cultura, que qualquer um deve sempre querer predispor-se a conhecer. Assim, e por isto motivado, chegámos a Salamanca quando esta já dormia. O deserto das ruas despoleta conjecturas, cria expectativa, aguarda uma nova manhã, uma primeira manhã para os estranhos ao local. Toda a cidade comporta uma história e um contexto, descoberto pela leitura que em muito ajuda mas não iguala à presença. A atmosfera da cidade, o calor do povo, a sintonia dos visitantes e a verve dos temporários residentes fez-me sentir um estranho num local familiar. Estranho por desconhecer o que me rodeava, estranho por não ter descoberto ainda os cantos a uma casa à qual acabei de chegar. Familiar porque a “mediterraneidade” que se respirava no ar regressava-me a casa, e a miscelânea de línguas ouvidas das bocas dos que fazem agora Erasmus, também me relembrava da minha emigração de há dois anos. O país foi outro, o espírito, o mesmo. A qualidade da companhia só me fez aproximar, daqueles momentos. Digo aproximar, à falta de melhor termo, porque qualquer dos momentos não é comparável: os tempos são outros, as circunstâncias são diferentes e as pessoas, singulares. Que andei pela Plaza Mayor, pelas ruas deambulando sem mapa, pela noite, pelo dia são momentos que não enumero por não obstante serem singulares à sua maneira, não interessam a quem lê, e tão menos podem ser explicados, quando podem ser melhor vividos.
Dizer que esta foi uma viagem única não é justo. Todas o são. Únicas no seu destino, nos intervenientes, nas peripécias, no bom, no mau. Esta importou mais um pequeno marco de conhecimento e de experiência que sempre me estará gravado mais fortemente na memória do que nas fotografias. Só ela me fará reviver mais de perto as fotografias, as caminhadas, as quedas, as perdas, o pão, os crepes, quiches, o armário, o nheco, o poker, a puccca, a captaleeesta empírica, o taj mahal, o saco-cama, as gomas, os coreanos, a caca de pássaro, os gelados, o sono, o despertador, a scary bradshaw, um abraço, um café pequeno, um astronauta, rã, macaco, coelho, cãos, orelhas, imans, t-shirts tudo isto e o mais que por agora me esqueço é de “Valor”, assim como esse momento em que colados ao chão ouvimos um pedinte tocar o tema d’ A Lista de Schindler.
Tudo isto me relembra uma Salamanca sem palanque que me deixou saudades. Quero lá voltar, tal como a qualquer sítio onde tenha ido, talvez mais ainda por as memórias terem sido tão boas.
Vantage Point
domingo, 3 de maio de 2009
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1 comentário:
palavras para quê?
ainda está na sala o cheiro de um tempo que não volta mas que fica.
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