Que o futuro é apocalíptico, e que o Homem sofrerá pelo próprio deslumbramento com as suas capacidades na evolução do conhecimento e da descoberta do desconhecido não é tema novo. Lá está, não será nunca assunto que revolucione, apenas o fará a maneira como se aborde.
Uma nave de emergência médica é chamada a responder a um pedido de socorro vindo de um planeta distante e abandonado. Ao chegar ao destino sofrendo de danos quase irreparáveis, a tripulação depara-se com o socorrido e uma estranha e indescritível matéria que parece atrair e modificar todos os que com ela entram em contacto. Depressa descobrem que essa matéria é mais do que um fascinante artefacto: é uma substância criada por alguém (que não chegamos a descobrir) e que tem como consequência repor ao estádio anterior, todos aqueles que são suficientemente inteligentes e desenvolvidos para a ter descoberto. É inevitável que, de forma mais ou menos ostensiva, todos os filmes cuja temática se centre na exploração espacial tenham uma grande componente filosófica; a necessidade de tal consequência é lógica: a partir do momento em que o Homem se vê num ambiente desconhecido, ou caminhando ao infinito, conjectura sempre sobre as suas origens, a sua evolução e o seu desaparecimento. As viagens são demoradas, o ambiente é claustrofóbico na sua enormidade, a racionalidade de cada um não coincide com as dos demais; uns tornam-se racionais, pragmáticos, outros selvagens ou paranóicos. Acaba por ser, no fim de contas, um estudo sobre o comportamento humano num futuro que pelas nossas atitudes se revela como um nosso passado.
Falei, a propósito do The International sobre a falta de coerência dos estúdios sobre ao tipo de filme que se quer. Quando difere da matriz sazonal ou do estereótipo do que vende, há que encomendar as necessárias alterações, mesmo que essas às vezes impliquem quase um novo filme. Supernova é um desses exemplos quintessenciais que criou um fenómeno de culto. A pré-produção demorou anos, as filmagens meses. Visto o produto final, o estúdio achou que não era o que o público queria ver. Reduziram o filme de 130 para 90 minutos. Encomendaram novas cenas de acção e inclusive chamaram Francis Ford Coppola para deixar o seu toque. O que resultou foi um filme que não obstante ter sido trucidado por alguma crítica e público, mantém um fascínio e uma coerência numa manta de retalhos. É uma obra que revisito invariavelmente e pela qual tenho um encantamento, para muitos inexplicável. Seja pela atmosfera, pela temática ou pelo arrojo (ausente, para muitos) How do we put out a fire that can burn up the stars? É com esta interrogação que Angela Bassett acaba o filme e deixa tudo em aberto, a confirmação de uma certeza fatidicamente longínqua, num cliffhanger que merecia uma acompanhada continuação. Ou talvez não.
In The Spirit Of Friendship
segunda-feira, 8 de junho de 2009
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