O Dialecto está de cara lavada. Quer dizer, primeiro que tudo, não tem cara para lavar, tem uma imagem a renovar. Talvez não tenha passado tempo suficiente para justificar esta alteração, mas achei que, em todo o caso, o devia fazer. Fiel ao seu nome, e à minha missão, o dialecto continua a palrar as suas baboseiras, sujeitas e ansiosas de críticas, por crescer ser o mais importante. A linguagem é a mesma(não cedo ao acordo), os assuntos são os do costume, os leitores esperam-se ser os mesmos, e com sorte outros tantos que consiga entusiasmar.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Palavras Mágicas e Nostálgicas

"Eu hoje pareço estar com uma adversativa militante"

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Interpolanski

Roman Polanski foi preso, há 3 dias em Zurique. Para quem não está familiarizado com a história pessoal do realizador polaco, fique sabendo que dava para um filme com tantos ou mais incidentes do que aqueles que filma.

À parte da sua longa e prestigiada carreira que inclui filmes tão conceituados como Rosemary's Baby, Chinatown e mais recentemente, O Pianista, Polanski fora casado com Sharon Tate que, em Agosto de 1969, grávida de 8 meses, foi brutalmente assassinada em Beverly Hills juntamente com quatro amigos, pela "Família" de Charles Manson. 8 anos depois, Polanski viu-se envolvido num escândalo sexual envolvendo Samantha Geimer, na altura de 13 anos. O acto não foi negado pelo próprio, e após se ter dado como culpado, submeteu-se a uma avaliação psicológica que durou 42 dias. Confrontado com a continuação da pena, Polanski fugiu dos Estados Unidos para Londres e um dia depois para Paris; ora, fiel ao tratado de extradição com os Estados Unidos, França pode escusar-se a extraditar os seus cidadãos (Polanski tem dupla nacionalidade - polaca e francesa). Desde então, Polanski manteve a sua residência em França, e evitou viajar para países que pudessem facilitar a sua extradição para os Estados Unidos.
Até agora. Ao chegar a Zurique, para onde viajava para receber um prémio de carreira, Roman foi preso pelas autoridades Suíças. A detenção surgiu no seguimento da descoberta de investigadores americanos, dos planos da referida viagem, o que deu ao governo americano tempo suficiente para negociar com o suíco a apreensão. Apesar do ordem de captura existir desde 1978, e figurar na lista encarnada da Interpol há já alguns anos, só desde 2005 é que os EU requereram, mundialmente, a sua apreensão e extradição.

Pendente fica o extremamente interessante projecto que acabara de filmar na Alemanha, "The Ghost" com Pierce Brosnan, Ewan McGreggor e Kim Catrall. O que se passará daqui para a frente? Não sabemos se este projecto ficará no limbo eterno, já em fase de pós-produção. É de recordar que as "facilidades" que teve após aquele incidente foram mais que muitas. Em 77, no seguimento das acusações, foi-lhe permitido terminar o projecto que tinha em mãos; em 2002 foi-lhe atribuído o Óscar de Melhor Realizador por "O Pianista" e o Ministro da Cultura francês a vir dizer publicamente que esta detenção não faz qualquer sentido, uma vez que as acusações já são tão antigas e sem nexo que não deviam afectar alguém que fez tanto pela arte.
Opiniões formem-nas como quiserem, mas Polanski, übermensch por 30 anos, pode ver essa superioridade ameaçada.

Don't Forget The Rules

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Trabalha, que és lindo

Esteve uma semana com um tempo óptimo, a fazer-nos pensar como verão deveria ter sido e não foi. Quase parece de propósito, não trabalhei dois dias; fiz algo muito mais entusiasmante: estive em casa a curar uma gastroenterite que meteu todas aqueles episódios agradáveis que se conhecem, assim como também hospital. Hoje, já estou de volta! Não à forma física mas ao trabalho(!!).

The Arctic

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

...a giant leap for mankind

Aqui há uns tempos fiz um post dedicado a um novo compositor que tinha redescoberto. Brian Tyler mereceu-o, porque continua a ser presença indispensável nas minhas listas, mas ao ter-lhe feito um post, não poderia, porém descurar outros. Tyler está longe de ser o meu compositor preferido, John Powell, James Newton Howard e Trevor Rabin continuam a ocupar esses lugares. De qualquer forma, nos últimos tempos, cada vez mais me tenho vindo a aperceber que desse topo, senão mesmo na frente deverá estar um artista cujo talento e trabalho tem dado provas mais que provadas. Falo de Craig Armstrong. Este escocês tem a sua formação na Royal Academy of Music, e a sua experiência não se ficou somente pela composição clássica. Colaborou com diversos grupos de electronica, mais concretamente com os Massive Attack. Para o público em geral, é bem capaz de ter sido essa a área em que mais se destacou. Para mim, porém, e previsivelmente, foi na composição clássica.

Todos os compositores têm um óbvio fio condutor, um estilo a que obedecem; estilo por si definido ou em si criado pela formação músical que tiveram. Num texto que há alguns tempos li, falava-se de como cada compositor se tornava identificável por mais eclécticos e díspares que os seus trabalhos fossem, mais longe ainda ia a opinião(que subscrevo) que há um quê da etnia que se mantém. John Williams identifica-se à légua como Americano: as fanfarras que escreve, os instrumentos que usa, são apelativos mas na sua maioria pouco sumarentos. Hans Zimmer, por seu lado tenta fazer o mesmo, mas como a sua influência germânica pesa bastante, existe um cruzamento de vivências e estilos que resulta numa riqueza maior, ainda que mainstream. Armstrong transparece a sua influência britânica em cada nova partitura. Sendo todos os seus trabalhos, maioritariamente intimistas, talvez seja por isso que não estejam tanto no ouvido e no conhecimento de todos.
Armstrong compôs um inacreditável Bolero para o conhecidíssimo Moulin Rouge que passa assim que o filme termina. Em 7 minutos de música, Armstrong compõe a tragicidade que Baz Luhrman filmou. Em Elizabeth: The Golden Age, Armstrong herdou a batuta de David Hirschfelder, nomeado a um Óscar, e tendo umas altíssimas expectativas para igualar, superou-as de longe. Compondo a meias com A.R. Rahman, surgiu aquele que talvez seja o melhor e mais coerente trabalho de ambos: uma soberba obra que mistura os dois estilos, para uma história de época. Opening, Bess and Raleigh Dance, Mary's Beheading, Bess to See Throckmorton, Closing falam por si. Até para um filme de qualidade menor como The Incredible Hulk, Craig criou uma partitura de tal forma superior que convenceu o estúdio a editá-la numa edição de 2 discos e 45 faixas. Em poucas semanas, tornou-se das bandas sonoras mais vendidas da História. Já por duas ocasiões diferentes, publiquei aqui uma das minhas composições preferidas de sempre, precisamente deste filme, chamada Favela Escape. Quase tão boa é The Flower. I Can't, Bruce And Betty, Give Him Everything You Got, são igualmente muito boas.

Se realmente este for um post que lhes faça sentido, não deixem de descobrir ou redescobrir este compositor. Garanto-lhes que vale bastante a pena.

Mãe, muitos parabéns pelo dia de hoje.

domingo, 20 de setembro de 2009

Clint Mansell - The Fountain (O Último Capítulo)

O filme a que este disco serve de base é dos mais difíceis e peculiares filmes que alguma vez vi. The Fountain - O Último Capítulo, conta a história de um homem, médico, obcecado com a doença terminal da sua mulher, e que faz do seu objectivo procurar uma cura. Paralelamente é-nos contada uma história 500 anos antes, e outra 500 anos depois. Em todas três, o enredo gira à volta da busca da vida eterna, sendo as ilacções tiradas e discutidas pelo espectador.
Sendo este um filme obviamente filosófico e intimista, a banda sonora não teria como não o ser. O que Clint Mansell fez, foi criar uma partitura que além de se enquadrar de forma totalmente harmoniosa com as imagens, funciona igualmente bem, se não melhor, sem elas. Veja-se o exemplo de "Together We Will Live Forever", tema principal do filme, e que só é ouvido já nos créditos finais: é de simples execução (só há um piano), mas de pesada descoberta. Honestamente, é das melhores faixas que já ouvi, e a escolha de não a ter a passar durante o filme revelou-se acertada; a mera distracção das imagens poderia tirar força à peça, mas ainda assim, para quem viu o filme, e o perceba, faz de facto todo o sentido ouvi-la tendo a história já sido integralmente contada. Em "Holy Dread!", "Tree Of Life" e "Death Is The Road To Awe", a percussão é mais marcada, assim como os coros, não se afastanto da temática central, especialmente a última, que acompanha o climax do filme, e que tal como ele é um dos pontos altos da obra.
Esta banda sonora, composta por Clint Mansell, teve a particularidade ter sido tocada pelo Kronos Quartet, e pela banda de rock Mogwai que resultou numa simbiose de diferentes estilos. Duma colecção de cerca de 300 bandas sonoras, é complicado eleger alguma como a preferida, porque por melhores que algumas sejam, têm sempre algumas partes menos boas; com The Fountain, isso não acontece. Poderá, para alguns ser preciso mood para a ouvir, mas para os que não fôr e queira descobrir um trabalho soberbo, daqui não sai desiludido.

Track List:
1. The Last Man 2. Holy Dread! 3. Tree Of Life 4. Stay With Me 5. Death Is a Disease 6. Xibalba 7. First Snow 8. Finish It 9. Death Is The Road To Awe 10. Together We Will Live Forever

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A Idade da Indecência

Já estamos todos fartinhos de saber que séries só vendem com gente bonitinha à frente. Cai um avião numa ilha deserta, cheia de desconhecidos talhados para sex symbols; uma sociedade de advogados com dramas amorosos que mais parecem backstage de um desfile; vivos, mortos, presos, livres, ricos pobres, todos estão convenientemente deslavados num arranjo pouco natural. O mesmo podemos dizer das supostas idades das personagens que alguns actores encarnam. Basta olhar para todos as séries (e filmes, claro está) onde as colegiais parecem saídas de uma fraternidade de veteranos de faculdade, e os pais parecem poucos anos mais velhos. Para isso vejamos um exemplo paradigmático: na genial série Nip/Tuck veja-se as personagens de Joely Richardson e John Hensley, que faziam de mãe e filho, quando na realidade tinham 12 anos de diferença. A explicação desta pequena curiosidade pode prender-se mesmo até com a própria mensagem da série: o conceito de beleza e perfeição em que a sociedade se afoga, faz recorrer a estériotipos que no ecran resultam, mas cá fora não. Nunca a velha suspension of disbelief fez tanto sentido.

Rock The Casbah

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Corredor da Morte

No Corredor do Poder desta noite, quando perguntada sobre o desempenho do seu líder, Jerónimo de Sousa, no debate com Sócrates, Margarida Botelho diz, com toda a franqueza: "Lamentavelmente não assisti ao debate do líder do meu partido porque estava na festa do avante!" Brilhante! Melhor, segundos depois, a Ana Drago é-lhe perguntado o mesmo quanto a Francisco Louçã: "Pois...eh..eh.. eu também não vi o debate por estar ausente, nem tive oportunidade de o ver desde então"!

The Hand Of Fate

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A Lei dos Sacanas

Tarantino fê-lo outra vez. Poucos são aqueles que se podem dar ao luxo de a cada filme novo criarem uma identidade para a sua década, independentemente do tema ou de mediatismo do mesmo. A obra do realizador, embora pouco numerosa, é suficientemente diversificada, mas coesa pelo não-abandono do estilo.

Estamos em plena Segunda Guerra Mundial quando dois núcleos separados convergem com o intuito de acabar com a vida de Hitler e os seus aliados políticos. Dividido em cinco diferentes capítulos, o filme de Tarantino não obedece à típica norma de pôr todos os intervenientes a falar inglês numa França ocupada; cada personagem fala a sua língua, e desenvolve-se com as possibilidades e limitações que isso comporta. Tarantino foi fidedigno neste ponto específico não o sendo noutros, mais concretamente nas liberdades históricas (não falando nas estilísticas) que toma. Uma vez mais as personagens principais são fortes de carácter, decididas e empenhadas em cumprir o objectivo a que se compremetem quando aparecem, não há surpresas: Tarantino, pura e simplesmente nos surpreende com reviravoltas de história, os objectivos querem-se cumpridos, os vilões punidos e redenção e perdão não devem existir.

Goste-se ou não do estilo, da narrativa e dos filmes de Tarantino, não pudemos é negar que irreverência e talento não lhe faltam por até agora, e ainda bem, não abrandou nem desiludiu. Se é preciso esperarmos 4 a 5 anos por um seu filme, que seja, antes isso e termos uma obra coesa do que vários desnexos como acontece a tantos outros. Este Sacanas Sem Lei já teve o seu devido e merecido reconhecimento no Festival de Cannes, a temporada de prémios no final do ano encarregar-se-á do resto, mas decerto que esta entrada superior não será ignorada.

* * * * *

Il Tramonto

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ao Som da Estação

Depois de um mês de ausência, marquei o regresso por mostrar a imagem e o som do verão. Mas, querendo voltar a escrever regularmente no blog, e não querendo manter-me sempre na mesma área, reparo que é complicado, senão mesmo impossível. Dou por mim a ouvir uma meia dúzia de músicas repetidamente, sabendo que ficaram elas associadas a pessoas, coisas e sítios deste meu último(?) ano de soltura.

Tomb Of The Primes - Steve Jablonsky
Uma vez mais Steve Jablonsky volta a lançar um trabalho em plena época balnear, que teima em manter-se na cabeça (minha e não só). Este é um tema que ao lado de Infinite White, se destacam tanto no tom, como no estilo de um álbum bastante heterogéneo. Cada vez mais em músicas instrumentais, as vozes femeninas têm presença por forma a transmitir a ideia de calma e tranquilidade. Não fugindo esta peça à regra, nem ao pastiche da Media Ventures, vale por si só como uma entrada marcante e significativa.

Alguém Me Ouviu - Mariza e Boss AC
Se este dueto é improvável, mais ainda foi a minha reacção ao produto final. Cantarem simultâneamente, seria impossível, porque os estilos de ambos são diametralmente opostos; a solução foi a óbvia: cantarem alternadamente, num meio caminho entre estilos, palavras e sentimentos. Vejo-me claramente inclinado para as partes de Mariza, não por gostar de fado, (mas não do dela), mas porque é indiscutívelmente a parte mais forte, até a nível musical, os incontornáveis e essencias violinos e a típica e inigualável guitarra portuguesa. Foi, sem sombra de dúvida, a música mais marcante que ouvi nos últimos tempos; é uma rendição total e absoluta que não diminui, e prova que por mais detractor que possa ser da música comercial portuguesa, sei ceder e render quando a qualidade fala por si.

Favela Escape - Craig Armstrong
Quanto à música anterior falei de rendição. Não foi exagero; mas se essa palavra foi bem empregue, terei que descobrir uma outra mais forte e significativa que chegue para descrever esta música. O filme de que faz parte é de qualidade francamente duvidosa, mas quando pela primeira vez a ouvi, há cerca de 9 meses, "rendi-me" por completo. Armstrong voltou a empregar o seu estilo percussivo, juntando uma orquestra de violinos, criando um tema poderoso, marcante de fácil compreensão e memorização, mas de desafiada degustação. Recomendo, obviamente que ouçam a música na sua totalidade, mas a maior e última riqueza da mesma encontra-se de 1:15 a 1:42.

I60 BPM - Hans Zimmer
Que Zimmer é um incontornável nome da composição não é segredo, muito menos o seu talento. A razão pela qual é considerado, cada vez mais como o mais influente compositar da cena internacional, prende-se com a sua versatilidade já provada, ainda que mantendo o seu estilo. Este I60BPM, é uma obra complexa, mas de atenção merecedora. A forma como os coros se misturam com a eclética percussão e o omnipresente sintetizador, numa composição irregular mas plenamente coerente, é digna de nota.