O Dialecto está de cara lavada. Quer dizer, primeiro que tudo, não tem cara para lavar, tem uma imagem a renovar. Talvez não tenha passado tempo suficiente para justificar esta alteração, mas achei que, em todo o caso, o devia fazer. Fiel ao seu nome, e à minha missão, o dialecto continua a palrar as suas baboseiras, sujeitas e ansiosas de críticas, por crescer ser o mais importante. A linguagem é a mesma(não cedo ao acordo), os assuntos são os do costume, os leitores esperam-se ser os mesmos, e com sorte outros tantos que consiga entusiasmar.
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

The Results of Micromanaging - Os Miúdos Estão Bem

Desde que vemos, pela primeia vez, o trailer deste "Os Miúdos Estão Bem", de Lisa Cholodenko, é despertada em nós a curiosidade do tom leve com que é abordado o tema central. Implacável a escrever diálogos mordazes e inteligentes e a dirigir histórias com relações complexas e cruzadas, Cholodenko voltou ao registo de Atracção Acidental - Laurel Canyon, onde se nota o à vontade. Tal como naquele filme, temos aqui uma mistura de actores conceituados, com outros que estão a crescer para papéis de relevo. Além da certeira e habitualmente implacável mão de Cholodenko, o filme é uma ode a Annette Bening (a chamar pelo Óscar) e a Mia Wasikowska, que com apenas 21 anos já conseguiu, merecidamente, encaranar no cinema duas personagens do conhecimento geral - Alice no País das Maravilhas e Jane Eyre.

Say So

domingo, 21 de novembro de 2010

Obra Inacabada - Harry Potter e os Talismãs da Morte, Parte 1

Qual a melhor das adaptações cinematográficas de Harry Potter?
Não vamos nunca encontrar uma uma resposta que seja, obviamente líquida. Contamos já 7 filmes de 8, com abordagens, realizadores e equipas técnicas diferentes que vieram trazer adaptações mais ou menos fiéis e mais ou menos negras ao material de base.
O que é facto é que a saga de Harry Potter há muito que deixou de ser dirigida ao público infantil. Se há 9 anos atrás, altura da primeira adaptação, a temática e o público alvo enquadravam-na no género infantil, o crescimento da personagem, os desenvolvimentos da história e a necessidade de adaptação da temática afastaram-na desse género inicial. O público alvo de Potter é já adulto, assim como o restante público que, sendo mais velho, acabou por viciar-se no universo criado por J.K. Rowling.

Esta primeira parte d'Os Talismãs da Morte não está, pela primeira vez na série, absolutamente restringida pelo forçoso corte de enredos na adaptação cinematográfica. O último livro da série é necessária e obviamente o mais complexo e exigia um tratamento mais cuidado. A adaptação em duas partes, não era por isso, e contrariamente às opiniões destrutivas, uma manobra para auferir mais uns cobres; é uma necessidade - condensar-se toda a história num só filme, fragilizaria uma história, que por estar a terminar, não pode deixar àqueles que não a leram, pontas soltas ou partes inacabadas.
Desde que o desconhecido David Yates ingressou na série, esta tomou um rumo mais intimista, mantendo o tom negro (introduzido por Cuarón em O Prisioneiro de Azkaban) que era inevitável, dados os conflitos internos da personagem principal, e a conjuntura da história criada por um medo generalizado a uma personagem, poucas vezes vista, mas cuja fama está sempre presente. Esta primeira parte d'Os Talismãs da Morte será por isso a mais intimista e parada das adaptações, não sendo isso, de todo, um defeito, antes pelo contrário. Para que se percebam, de facto, as motivações de cada um, é necessária que seja criada essa atmosfera envolvente.
Visualmente, e como tem sido apanágio da série, o filme é irrepreensível; a direcção artistica do veterano Stuart Craig é irreprensível, bem como a fotografia do português Eduardo Serra. Mas o ponto alto do filme, sem qualquer tipo de dúvida, é uma sequência de cerca de 5 minutos, em que é contada uma lenda do mundo da magia, não em acção real, mas numa animação de computador gótica, muito ao estilo de Tim Burton e Henry Selick, que destoando do mundo de Potter, destaca-se por essa característica.

À semelhança de qualquer dos outros filmes de Potter, este não é um filme autónomo. Está inserido numa sequência que não acompanharão os estranhos a este universo, e é o mais inacabado dos filmes por terminar a meio de uma história.

Que seria uma tortura para todos (nós) os fãs da saga, não era propriamente uma novidade, mas esperar até Julho pela continuidade desta magnífica conclusão é um exercício a que o cinema não nos punha à prova há muito tempo.

The Oblivation

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Máquina do Tempo

Alguém, cada vez mais incerto quem, resolveu criar um efeito onda no Facebook: convencer toda a gente a mudar a fotografia de perfil para uma personagem de banda desenhada de infância. Depois de Farmvilles, Mafia Wars, entrevistas e outras aplicações que cansam a paciência que qualquer comum mortal, finalmente uma ideia simples, eficaz e contagiante.

Dartacão

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Fenómeno ou "The" ´Fenómeno? - "A Rede Social"

Pode ser uma palavra usada à exaustão sempre que se queira caracterizar ou rotular um movimento de massas, mas em nenhum outro encaixa mais do que com o Facebook. Dispensando apresentações e aparentemente inabalável ao decurso do tempo, não estranha que, passado pouco tempo desde a sua implementação, que Hollywood fosse buscar a história dos seus criadores para lucrar uns milhões, conferir mais mística ao instituto e dar a conhecer de forma dramatizada (?) o seu percurso. Numa verdadeira roda viva desde que assinou, há dois anos, o superior "O Estranho Caso de Benjamin Button", David Fincher não seria uma escolha óbvia ou previsível para conduzir esta adaptação ao cinema. Nomes como Chris Columbus, Ron Howard, os costumeiros "adaptadores" de projectos de massa, não deitaram as mãos a um projecto que benificiou por isso mesmo. O toque negro, cru e inteligente de Fincher encaixou que nem uma luva numa história cujos intervenientes são movidos pela ganância misturada com frustrações pessoais e gosto pelo voyeurismo, que, não acaba por diferir muito das personagens por si dirigidas em obras primas anteriores.
Quanto de verdade estará numa história verídica, primeiramente transposta para o livro "The Accidental Billionaires" de Ben Mezrich e depois adaptada para o cinema, está obviamente aberta a discussão e é alvo de especulações, mas enquanto exercício de análise ao fenómeno actual, the Social Network é um pequeno grande filme, inteligente, voraz e crítico a um vício de massas que não mostra sinais de abrandamento.

Creep

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O Regresso à "Casa"

É certamente impossível definirmos o sítio onde mais nos sentimos completos, onde somos ou fomos mais felizes; mas é seguro que vários são os lugares que nos completam. Aqueles lugares que, em determinados momentos da nossa vida nos acolheram, nos serviram de tecto, onde vivemos experiências únicas e que por isso mesmo não podemos revisitar, senão fisicamente.

Esta semana, regressei a um desses sítios. Onde durante seis meses vivi, longe de tudo o que me era familiar, embrenhado num desconhecimento geográfico, perdido numa tradução verbal, mas concentrado num salto transicional abrindo um novo capítulo da minha vida. O salto, que tive a sorte de conseguir dar, devido a esta experiência que sabia ser temporária, pelas mais variadas razões que a muitos serão compreensíveis, só ao próprio é significativo na sua plenitude.
Quatro anos depois, o choque emocional foi maior do que o imaginado. Sabendo já de antemão que o encanto não poderia ser o mesmo, a energia que prespassva do ar consumiu de tal forma que as consequências não se fizeram sentir de imediato, mas só quando o momento da partida se aproximou. A vontade de partir era nenhuma, as saudades eram indescritíveis, o regresso era inevitável. Feliz ou infelizmente, não podemos viver ad eternum num sonho que teve o seu momento. Talvez seja essa mesma a razão de ser deste capítulo que se fechou. Uma história que, com a duração de seis meses, englobou um crescimento cultural, linguístico e emocional, até à data, sem paralelo. O gosto que dá voltar a esse lugar e explorá-lo como se fosse a primeira vez, cimentando e até aumentando um fascínio que a distância proporcionou; assistir à reacção esmagadora daqueles que ainda não tinham visto uma cidade cuja extrema beleza física esconde uma química inevitável. O que vivi pode não ser recuperável, mas o que adquiri é impossível ser devolvido. Este é, lá está, um daqueles fragmentos de que não me volto a separar, não só porque não posso, como também porque não quero.


Hoppipolla