O Dialecto está de cara lavada. Quer dizer, primeiro que tudo, não tem cara para lavar, tem uma imagem a renovar. Talvez não tenha passado tempo suficiente para justificar esta alteração, mas achei que, em todo o caso, o devia fazer. Fiel ao seu nome, e à minha missão, o dialecto continua a palrar as suas baboseiras, sujeitas e ansiosas de críticas, por crescer ser o mais importante. A linguagem é a mesma(não cedo ao acordo), os assuntos são os do costume, os leitores esperam-se ser os mesmos, e com sorte outros tantos que consiga entusiasmar.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Esquizofrenia por Scorcese - Shutter Island

O terror é difícil de abordar. Por outra, é difícil de o tornar eficaz. Nas décadas de 70, 80 e 90, Hollywood aterrorizou verdadeiramente o mundo com filmes com premissas mais ou menos verosímeis, que pela novidade cumpriram o objectivo a que se propuseram. Nos dias de hoje não é tão fácil; o género está gasto, banalizado e com má reputação graças a incursões disparatas e desnecessárias que afastaram os aficionados do género.
Eis que Scorcese, em 2010, resolve adaptar o romance Shutter Island de Dennis Lehanne, ensaio sobre a loucura e a esquizofrenia que trazem por arraste o terror, filmado com a paixão inconfundível do realizador de Taxi Driver. Shutter island não é um filme para todos. Não é terror simples, não é psicologia olvidável, nem é para o estômago de todos. Mais uma vez nos é dada uma lição de como embrenhar o espectador numa história, pondo-nos tão à deriva como os personagens em si, questionando tudo, não acreditando em nada, fazendo de nós detectives no limbo da sanidade, em que a solução só nos é revelada (definitavemente) quando o realizador quer.
Se há previsibilidade, é discutível; não havendo, é bom. Havendo, melhor ainda. se calhar estamos mais envolvidos do que achamos.

Zepp Overture

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A muitos Pés da Terra - Up In The Air - Nas Nuvens

Ryan Bingham despede pessoas como profissão. O começo e o final do seu dia não são constantes. Os destinos, variáveis. Inerente a este estilo de vida, orgulhosamente proclamado, está a solidão e o distanciamento de qualquer pessoa ou bem. Tal realidade não tem uma causa, foi uma rotina adoptada, reiterada e consciente que se tornou único facto. Havendo patrões que não têm a coragem de despedir os seus trabalhadores, contratam quem os faça, e é aqui que entra em força Ryan Bingham que parece ser a pessoa mais adequada à tarefa.

Por vezes penso que me é difícil escrever sobre um filme, não sabendo por onde começar e onde terminar. Up In The Air - Nas Nuvens, garanto, é o filme que mais me custa a descrever, criticar (positiva ou negativamente) e por isso, a tomar uma posição. De antemão, qualquer pessoa de bom senso olha de lado ao próprio ponto de partida da história, mas se em alguns casos, essa realidade serve para expandir uma história, aqui não. Up In The Air é imoral. É com toda a probabilidade o filme mais imoral que vi nos últimos tempos; imoralidade essa não física, gráfica, chocante mas idealmente fria, distante e bruta.
A propaganda da empresa para a qual Ryan Bingham trabalha professa uma pseudo-moral de que um despedimento é a porta para novas oportunidades; moral essa que não é, pelo desenrolar da história, descartada, satirizada ou reprovada. As acções das duas principais personagens só os qualificam como iguais ou piores a essa mesma política de emprego. O distanciamento de tudo, acompanhado por uma rotatividade de gente com quem se cruzam no dia a dia, acaba por ser a mensagem última: a solidão não compensa. Pior, a razão pela qual as pessoas se casam, juntam e assim permanecem é a de se evitar a solidão a curto, médio e longo prazo.

Veja-se o filme de outro prisma: estrutural e linearmente, não é mais do que tantas outras histórias que se centram num "proscrito" por vontade própria, que acaba por mudar o seu estilo de vida e o seu egoísmo porque alguém melhor assim o convenceu. Há sempre o final arrependimento e abandono da vida que se criou e um regresso, ou tentativa pelo menos, à vida que se deixou escapar. O que aqui se destaca é que com o mesmo molde se conseguiu atrair um maior número de público, crítica e prémios pelos actores angariados, pelos diálogos escritos, e pelos planos filmados. Nesse aspecto gostei, e muito, de Up In The Air. Jason Reitman, representante anual do filme independente nas nomeações da Academia, mereceu, este ano, lá estar por ter conseguido a magnífica proeza de ter vendido uma moral involuntária ou voluntariamente (não sei qual é a pior) imoral de forma tão categórica.
Não me surpreende minimamente (acharia até estranho se não assim não fosse) que George Clooney e especialmente Vera Farmiga, estejam nomeados (não irão ganhar) por papéis aos quais trouxeram tanta profundidade. Aqui está uma prova de que não é preciso gritar, chorar, maquilhar ou trejeitar para se fazer um magnífico papel; é saber mostrar em expressões e meros diálogos o que se sente.
Se se entra em empatia, vai depender de cada um; há quem consiga e vá deixar-se seduzir pelos momentos cómicos em detrimento dos dramáticos ou não cómicos; outros, como eu, não conseguem. A mensagem e a premissa entram em conflito directo com os valores; valores esses que não abdicamos.

Honey and The Moon

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Woody Works - Whatever Works

Chegados a Fevereiro sabemos que vamos ter direito ao nosso habitual presente de Woody Allen. Uma história diferente num cenário revisitado, com os jeitos de sempre. Com isot podemos definir o novo trabalho de Woody Allen. Mas não é suficiente; embora a simplicidade da história, a linearidade do enredo e os maneirismos de sempre, a Allen basta-lhe uma hora e meia para nos deixar realizados após uma espera de 12 meses.
Allen é o único autor que, nos dias de hoje, idealiza, escreve e filma como fazia há 40 anos. Os mesmos opening credits, os diálogos inteligentes e eficazes, a atmosfera singular, a teatralidade da encenação e os díspares actores em jeito de improviso ao sabor dos seus maneirismos. Aqui transferiu-os, com marcado ênfase, para a personagem de Larry David, que encarna um alter-ego de Allen, não só na vida real, como nas personagens que vem personificando quando aparece no écran.
O que mais marca este último trabalho é a ainda mais presente teatralidade de toda a história, possível de ser encenada num qualquer palco, não só pela funcionalidade dos locais onde se desenvolve, como pela narrativa em si, com uma personagem principal que frequentemente fala e interage com o público embrenhando-o ainda mais na história com uma leveza de espírito que só Allen nos traz.
Nem de propósito, um filme de Allen enche mais uma sala do que muitos candidatos aos prémios da Academia. Pode ser mais do mesmo, pode não estar à altura de nomeações, mas é um culto que move muita gente; uns simpatizantes, outros, como eu, devotos.

El Noi de La Mare

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Invictus para Eastwood

Fazer vénia a Eastwood é lei. Qualquer plano que filme é de achar soberbo. Cada filme que faz está num patamar acima de qualquer comum obreiro. Era uma óptima maneira de começar uma crítica a um filme de Clint Eastwood, porque estava a favor da corrente generalista e da especializada. Lamento mas não estou. Se bem que reconheço os valores de Imperdoável e Meia Noite na Jardim do Bem e do Mal, não me prostro aos pés do seu autor. Gostos. Acho que Hollywood se está a tentar, e cada vez mais, agarrar ao reduto da geração de ouro do Cinema.
Quando entrei para ver Invictus, posso dizer, por isso, que as minhas expectativas não estavam propriamente no topo; mais uma vez estava lá para ver se percebia o porquê de tanta maravilha.
Não foi Invictus que mo provou, mas o que mais se aproximou. Há de facto sentimento, nobreza e carisma na homenagem que se presta a Nelson Mandela, mas não ao ponto da rendição ser absoluta. É um filme que tem boa projecção quando se sai da sala, fica bem perguntar se já se viu e dizer que se gostou, mas não vai ficar na memória. Escandalizava muitos se Morgan Freeman não se visse mais uma vez nomeado, mas não vai permanecer. E se alguém me conseguir explicar o porquê da nomeação de Matt Damon a melhor actor secundário por um papel rotineiro, agradeço.
Para todos os efeitos, Invictus não sairá vitorioso da corrida aos Óscars. Vai com duas nomeações, e é assim que de lá sairá.

Dedication and Windsong

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Eu Tenho

Novo ataque da Vodafone - Sound Experience.

Fazer publicidade é lixado. Tem-se na mão a responsabilidade do sucesso de um produto, que pode, em muito, ter sucesso pela maneira como se vende. Não confundir, porém publicidade com marketing. Há empresas com esquemas de marketing excelentes, mas com publicidade danosa - a Frize, por exemplo.

Mas se há coisa que acho que se faz muito bem em Portugal é publicidade: consegue-se pôr um produto a vender pela reconhecida eficácia como ele foi vendido, quer em anúncios televisivos, quer em banners de rua - na linha da frente estando, indiscutívelmente, a Super Bock. Agora, aproveitando a estreia e a afluência em massa aos cinemas de Avatar, a Vodafone resolveu enverdar pela Sound Experience, um projecto que se quer paralelo ao 3D, mas que, ao contrário daquele, tem efeitos diferentes, não necessáriamente melhores.

Somos sujeitos a 2-3 minutos de anúncio, sem imagem, de olhos fechados, em que o que ouvimos deve sugerir o que não podemos ver. Ideia brilhante, bem concebida, mas totalmente desdequada à Vodafone. Se o anúncio "avião" ainda é suportável, (mas não mais que uma vez) o da aula de música é de quase obrigar o mais paciente e entusiasta espectador a sair da sala. Pensava, da primeira vez que fosse piquinhice só minha, mas pela reacção de quem rodeia, já vi que não.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

The Road To The Oscars: Os Titânicos Morreram

É oficial; pela lista que hoje de manhã foi anunciada, não podemos concluir outra coisa que não "os blockbusters" morreram. Como "único" representante do género está Avatar, que por si só carrega o peso do hype, das receitas milionárias e da representação do cinema caro de qualidade.

Pela primeira vez, a Academia resolveu introduzir os dez nomeados à categoria de melhor Filme, passo que ao invés de trazer entusiasmo, não trouxe outra coisa que não insatisfação. Por várias razões.
Se anos houve que a escolha de 5 nomeados pareceu injusta por deixar de fora candidatos que mais mereciam vencer, não era aumentar o número de candidatos para o dobro que resolveria a situação. Segundo, tamanha variedade não vai mais do que dividir votos, num ano que não há nenhum favorito, a consequência é apenas e só a de eleger, com menos força, o que a maioria votou. Terceiro, não houve ano em que nos parecesse tão pouco especial a vasta lista de candidatos.

Avatar foi para o público o fascínio da tecnologia, quer a nível de perfeição técnica, de espanto com o 3D, ou por ter sido o filme que finalmente destronou Titanic como o mais rentável filme da História (não ajustado à inflacção).

Não posso escrever como fosse propriamente uma novidade, viso que no ano passado fiz igual observação: exceptuando as eventuais 5 ou 4 surpresas, os 4 ou 3 esquecimentos, as 3 ou 2 revoltas, nada realmente mudou. O que mais podemos notar é que a par do que há muito se repara, o arrojo do cinema independente ou de baixo orçamento leva a melhor sobre a disparatada e pouco cuidada barulhada ou superficial infantilidade dos blockbusters. Com a excepção de Duplicity e Ágora, não me lembro de nenhum filme que por nós tenha passado que tenha marcado pela positiva e tenha sido esquecido.

O facto de olharmos para esta lista e não podermos dizer se concordamos ou não com as escolhas da Academia deve-se unicamente às distribuidoras nacionais. Não conhecemos mais de metade dos filmes. Quer os arrebata nomeações, quer os silenciosos (mas mais interessantes).

Tal como se vem a passar, desde há muito, com o presente anual de Woody Allen, que é dado aos Estados Unidos em Novembro. Nós recebemo-lo no início de Fevereiro.

I Claim Your Sun

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Não é Preciso Ter Pé Pesado

Foi revelado ontem que a Citröen e a Peugeot vão mandar chamar mais de 97 mil veículos em toda a Europa por causa de um problema nos pedais.

Em causa estão os modelos C1 da Citröen e 107 da Peugeot, produzidos na República Checa pelo Grupo Francês PSA que também produziu o semelhante Toyota Aygo. De acordo com a gigante japonesa Toyota, o Aygo começou a acusar problemas no pedal do acelerador, por este, em alguns caso, não voltar à posição original depois de pressionado.

A medida de recolha destes veículos é puramente preventiva, pois os responsáveis não acreditam que o mesmo problema se registe nos modelos da Citröen e da Peugeot. Não estando, para já, agendada uma recolha semelhante em Portugal, os proprietários serão comunicados por carta do problema, caso contrário, há desculpa para andar a abrir nas estradas, não se poupa é no susto.