O Dialecto está de cara lavada. Quer dizer, primeiro que tudo, não tem cara para lavar, tem uma imagem a renovar. Talvez não tenha passado tempo suficiente para justificar esta alteração, mas achei que, em todo o caso, o devia fazer. Fiel ao seu nome, e à minha missão, o dialecto continua a palrar as suas baboseiras, sujeitas e ansiosas de críticas, por crescer ser o mais importante. A linguagem é a mesma(não cedo ao acordo), os assuntos são os do costume, os leitores esperam-se ser os mesmos, e com sorte outros tantos que consiga entusiasmar.
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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Uma Música Vale Mais Que Mil Imagens

Título inicial: Maus filmes, boas bandas sonoras. Faz-me confusão como o youtube está cheio de vídeos e de gravações que não interessam nem ao menino jesus, e depois grandes músicas, grandes vídeos não os encontramos. Basta eu dar-me ao trabalho aprender, que passarei a fazer a minha parte, a "dialectar", além blog, para quem quiser partilhar.

Ao correr a minha videoteca, passei os olhos pela caixa de um daqueles muitos exemplos de um filme de qualidade aflitiva (porém aberta a discussão) com uma banda sonora merecedora de tanto mais.

O filme de que falo é Next-Sem Alternativa com Nicolas Cage. O filme é mau, a banda sonora é soberba. Dei por mim, não poucas vezes, a pôr o filme no DVD para ouvir numa ou noutra cena trechos que tinha ouvido à exaustão, na companhia das minhas imagens. É claro que uma predisposição para se deixar levar por música instrumental é necessária, tal como uma empatia natural; vontade de sentir e querer revisitar esse, chamemos-lhe, mundo. Toda esta partitura escrita por Mark Isham, compositor habituado a trabalhar com Brian De Palma e mais vocacionado para a área do jazz, transporta-nos para um ambiente tão rico como imaginativo e também diversificado: temos percussão, violinos, piano, e muitas vezes os três à mistura.

Não me consigo decidir, entre duas, qual a minha preferida, até porque o motivo e o tema é o mesmo, embora abordado de forma diferente. "I Believe Anything is Possible" (excluindo a parte final) é de uma beleza e um sentimento indescritíveis. Por vezes, ao escrever algumas míseras linhas sobre uma música sinto que não estou, a fazer justiça ou nem de perto a homenagear o material em questão, por a qualidade ser tanta e as palavras tão poucas. A razão é óbvia: é fácil sentir, é impossível descrever.

A outra música à qual me rendo chama-se "Carlotti Defines". À música não consigo tecer os devidos elogios, pelas razões acima descritas. À cena em que a música se enquadra, também não.

"There's an Italian Painter named Carlotti, and he defined beauty,
he said it was the summation of the parts
working together in such a way, that nothing needed to be added, taken away, or altered
That's you
Your're Beautiful"

A cena é uma justa ode à Jessica Beal, mas não há dedicatória mais bonita, e melhor acompanhada que esta. É uma cena com uma simbiose de imagem e música indescritíveis, e uma beleza inexplicável. É muito provável que não concordem comigo, mas cada um tem as suas pancas. Esta é mais uma minha. Enquanto não lhes puder mostrar através do blog, o quão perfeitas são estas músicas sem as imagens, façam-me um favor e vejam este vídeo duas vezes. Uma para o "captar", outra para o sentir (isolando a música!). Se vos disser o que me diz, reincidam, como eu: abusivamente.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Os Ganhos do Dia

Não posso dizer que odeie alguma das estações do ano, nem tão pouco os vários tipos de clima. Já vivi e habituei-me a tipos díspares, e acho que ambos têm o seu encanto. Embora tenha esta opinião, não quer por isso dizer que não prefira um tipo específico. Sou claramente uma pessoa à vontade com o calor, desde miúdo que me habituei e é a este tipo de clima que associo as melhores das memórias. Tendo-me dado uma panca destas, hoje saí à rua, andando pela cidade, com a música sempre comigo, a redescobrir uma cidade que se define e melhor se ambienta ao sol e ao calor. Estas caminhadas não são exclusivas do tempo quente, são apenas diferentes e mais especiais. Não me fez falta o carro que deixei estacionado à porta de casa, tive pena da curteza da tarde, que deveria ter começado mais cedo. O fim de tarde, foi daqueles que eu gosto... o som das andorinhas, uma luz dourada no céu azul e a sensação de possibilidade. Esperemos que amanhã seja um dia igual; mesmo que seja só metade, já é muito bom.

Bumblebee

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Lupitaaaaaa

É oficial: tenho um novo vício. De há uns anos para cá que as séries nos invadem as televisões e DVD's, por cada vez mais haver uma originalidade, inteligência e esforço que escasseia no cinema. Tenho algumas preferências, como é lógico: ao fim de 5 anos, Nip/Tuck ainda mantém alguma da pujança e arrojo dos primeiros episódios, ao contrário de Prison Break que teve um início genial, e descambou numa série previsível, desinteressante e vulgar.

Mas afinal de contas que série é que me conquistou? Weeds-Erva. Só este mês é que vi pela primeira vez, esta já há muito falada incursão na vida dos suburbios. Teve o seu lado positivo e o seu negativo. Negativo porque já a devia ter descoberto há muito tempo; positivo porque assim posso deverorar o que já está desponível em DVD, que é o que tenho feito nestes últimos dias. Quem está à espera de uma série de humor fácil, desengane-se porque não o é. É corrosivo, é gozão e inteligente. A qualidade dos textos é igualada pelos desempenhos de um elenco quase desconhecido que nos agarra, mesmo aqueles com papéis mais secundários ou esteriotipados.
Já várias vezes aqui disse que o facto de um enredo se poder resumir numa ou duas frases, não é indicativo de falta de ideias. Weeds prova isso mesmo. Quem não viu, descubra urgentemente a história de Nancy Botwin/ Lacy Laplante, uma víuva que não querendo abdicar da vida a que se acostumou num suburbio de classe média, resolve contrabandear droga na vizinhança.

Little Boxes

Flaps


pois...orelhas!

Snowflakes

terça-feira, 21 de abril de 2009

Speechless

Não há uma unica versão no youtube que dê para incorporar no blog, por isso sigam este link:

http://www.youtube.com/watch?v=RxPZh4AnWyk

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Never Found In Translation

Ontem vi um clássico, há muito adiado, e fiquei impressionado como o título original reflecte tão bem a minha reacção. Em português chamou-se "Os Amigos de Alex" - The Big Chill. Apesar do hype, não fiquei, nem de perto, desiludido. É bastante mais complexo do que o seu parco enredo nos pode levar a crer: as relações são redescobertas, e portanto retraídas, os diálogos de antalogia e o elenco quase na sua totalidade, impagável. Daí o meu Big Chill. Mas não foi só por isso. Há muito, muito tempo que não via um filme tão mal traduzido, ou melhor a questão não é tanto a tradução ser atroz, mas a quantidade de erros ortográficos por minuto. "Dissestes", "fizestes", "vistes-a", são alguns dos muitos exemplos que por mais inacreditável que pareça, estão espalhados e repetidos. Que as traduções não podem, nem devem ser literais, é uma coisa que alguém que perceba de línguas sabe, agora erros ortográficos de alguém que faz desta a sua profissão, não só presta um mau serviço ao espectador que não acompanha o diálogo original, como passa um atestado de estupidez e iliteracia a si próprio e para quem trabalha, supondo, que estes trabalhos são revistos. Se não são, é incompetência e falta de profissionalismo gritantes, se são, mais ainda.

The Big Chill

sexta-feira, 17 de abril de 2009

O Quantum do Agente Secreto


Não escondo que odiei o Quantum Of Solace como James Bond, mas que gostei muito enquanto filme. É contradição nos termos? Não por razões óbvias. Mas agora admito: como é que um Bond tão medíocre, pode ter uma cena inicial tão brutal na crueza e na qualidade? Quem está a falar é o infantil desmiolado, mas em apenas 3 minutos somos atirados para uma perseguição nas margens do Lago Garda, que me fez aplaudir e pela primeira vez gostar e apoiar um Daniel Craig que vejo como uma péssima escolha. Acompanhado pelo som de "Time To Get Out" de David Arnold, como dizia um comentário que li algures no youtube: "this fast paced percussion-ridden track just screams Bond's Back In Our Face". E grita mesmo.

http://www.youtube.com/watch?v=QXJiYV9K77Q

Time To Get Out - David Arnold
(especialmente de 2:35 a 2:47)

O Dia Depois de Ontem e os Carros

Ser mandado parar em operações Stop em Lisboa, não é novidade para ninguém que saia à noite em Lisboa. Ontem foi a quarta vez que fui mandado parar, mas a primeira em que realmente tinha noção que ia acusar. Qualquer que fosse o caminho a tomar, não haveria escapatória possível, já que a cidade estava minada de "Agentes da Ótóridade". Logo que fui mandado parar pensei que era o fim: o mal está feito, e é desta que a pena suspensa me apanha e lá vou eu tirar a carta outra vez. Lá dei o sopro forte e continuado, enquanto tremia que nem varas verdes. O Sr. Agente Rodrigues esta para lá de convencido que tinha o pratinho feito, e eu também. Aguardei porque a máquina me pediu por favor, e gentilmente acusou 0.35. "Os seus documentos, e os da viatura" (nem boa noite). Então bom dia e obrigado Sr. Agente".

Saí dali achar que podia com o mundo.

Hoje, ao vir de fim-de-semana, achei que o gasóleo que tinha no depósito era mais do que suficiente para chegar ao destino. Por acaso foi: cheguei ao destino com 6 kms de autonomia, ainda para mais nos 20 últimos quilómetros da viagem, não havia nenhuma bomba sequer perto, por isso arrisquei-me a ficar parado na estrada. Não morria por isso, aliás, talvez só me fizesse bem; era da maneira que não voltava a repetir a graça! Seja como for, o VM chegou ao destino, inteirinho e sem lerpar e a sede está morta. Palmadinha no capô, e não se volta a repetir!

Like a Dog Chasing Cars

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Medo de Dentistas



Ninguém vai ao médico por gosto, mas quando hoje fui ao dentista, para uma consulta de rotina, e me foi dito que tinha uma cárie, pensei: "não há espiga, arranquei um dente do siso a sangue frio quando tinha 17, isto vai ser peanuts." O caraças. Só faltou gritar, e a enfermeira até me deu uma festinha na testa no fim de tudo.
"O senhor tem bons dentes mas tá a dar cabo deles com tanta coca-cola e pastilhas elásticas." Foi um belo wake-up call, mas saí de lá a sentir-me uma criancinha, tudo aquilo me fez sentir um puto, só faltou sair de lá pela mão da minha mãe.
"Venha cá duas vezes por ano"! Com certeza, Sr. Dr. mas para a próxima vou de calções, panamá e mochila. Ah! e a minha mãe também.


Time To Get Out

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Já Repararam Que...Sacos de Farmácia

Irrita-me solenemente, até porque acredito não estar sozinho, o tamanho dos sacos que nos dão nas farmácias. Farmácia ou Pharmácia, essa é uma eterna e mais complexa discussão; agora alguém que me explique porque é que os sacos em que metem as caixas dos remédios são sempre minúsculos, roxos, com umas pegas mal enjorcadas? Depois metem tudo a martelo lá para dentro, incluindo a factura que profissionalmente rabiscam. Se não foi a crise que obrigou o recurso a amostras de sacos destas, peço (pedimos): saquinhos um bocadinho maiores (não, os de papel tipo embrulho de bolo, não servem)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Tradição

Já não é a primeira, e por certo não será a última vez que abordo um assunto relacionado com o lugar de onde vim. Uma das razões pela qual gosto tanto da Chamusca é a de haver tantas tradições, que por mais que o tempo passe, todos se oferecem a manter. Talvez a mais característica seja a forma como vivemos a tradição desta Semana que passou, particularmente a Sexta-Feira Santa. A descida do Senhor à tarde e a procissão à noite aproxima todos aqueles que com esta tradição cresceram, quer na fé quer na ritualidade da abordagem. A procissão dos painéis, das velas, lanternas, pálio e imagem está-me tão presente desde miúdo como em todos aqueles que por cá cresceram ou viveram “directa ou indirectamente”.
A questão da tradição, como deve ser mantida, o que deve ser alterado e como, é um assunto complexo e alvo das mais diferentes opiniões. Este é um dos casos que acredito que nada deve ser mudado. Foi essa mesma ritualidade na abordagem que manteve tantos fiéis a esta semana tão importante na vida de qualquer cristão. A tentativa e a efectiva alteração ou inclusão de certos desnecessários protocolos não é vista com bons olhos, mas acredito que se a tradição se manteve tão inabalável e perene passados tantos anos, a esta provação também subsistirá.
Por certo, todos os que de perto conhecem esta tradição esperariam que abordasse os cânticos entoados nessa quase cerimónia maçónica e repetidos na procissão. Não irei logicamente fazê-lo, não é desrespeito, não é lacuna. É enquadramento.

The Citrine Cross

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Clássico de Spielberg


É um cliché chamar génio a Spielberg. Indiana Jones, ET, Jurassic Park, Schindler's List, Amistad, O Resgate do Soldado Ryan, Minority Report: há grandes cineastas que passam uma vida inteira sem dirigir filmes cuja qualidade e a resposta da crítica seja tão irrepreensível. Pus-me a pensar e conclui que por maior lugar-comum que seja, a reputação e a notoriedade de Spielberg é, sem dúvida, facto provado.

Tudo isto porque hoje resolvi rever e reviver o meu maior filme de infância. Nenhum filme houve que eu tivesse visto tantas vezes, nem outro que eu associe mais à minha "juventude". O Parque Jurássico apanhou todos desprevenidos. Os detractores dos efeitos digitais, os seus admiradores, a população geral que não estava à espera de algo assim. A reacção dos paleontólogos nessa já clássica cena em que pela primeira vez reagem às criaturas extintas há 65 milhões de anos é de antologia; a falta de palavras para descrever o que está a frente dos seus olhos é paralela à nossa que não obstante meros observadores, somos tão parte daquele espectáculo como as personagens. O melhor é que só passaram 30 minutos desde que Spielberg nos convidou para esta viagem. É impossível ao mais céptico dos espectadores refutar que a vontade de se deixar levar para dentro do écran é inegável. A criança dentro de nós solta-se, ri-se, emociona-se e treme ao sabor da câmara firme e precisa de Spielberg.

Se procurarem na net os momentos que revolucionaram o cinema, decerto que encontrarão este Parque Jurássico no topo de qualquer lista por os seus responsáveis terem arriscado tanto e terem conseguido dar-nos a magia a que o cinema se propõe. Ainda hoje, ao rever este filme, repetindo muitos dos diálogos, e sabendo todos os desfechos, surpreendi-me e vibrei quase como da primeira vez.

Perguntam-me porquê rever alguns filmes várias vezes. Há aqueles que a televisão nos obriga, há os chamados guilty pleasures, há os que merecem e há os que já são parte de nós. Tenho vários filme que são o exemplo de cada uma destas categorias; depois tenho este, que, à sua maneira e em diferentes medidas, é um pouco de todas.

Welcome To Jurassic Park

domingo, 5 de abril de 2009

Beauty...In an Unlikely Place


Não há nada que mais goste do que ser agradavelmente surpreendido. Bandas Sonoras instrumentais são a minha droga, uma noite ideal passada num lugar só meu, recluso por vontade própria.
Hoje descobri esta pérola no meio de uma obra-prima que serve de música ao que prevejo ser o mais comum dos filmes: Babylon A.D.
Ao começar a ouvir esta música, a influência de Henning Lohner abundava, assim como a de Zimmer, pós Da Vinci. O resultado é o prólogo a um álbum que nos surpreende e apaixona. É pesado, não é fácil, é rico. Quem quiser, peça, caso contrário, não deixem ao menos, de dar a merecida atenção a esta fusão de estilos conseguida pelo islandês Atli Örvarsson.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Vídeo que Faltava


É quase transcrever a cena inteira mas é impossível não o fazer:
"que no puedo vivir asi, que me va a explotar la cabeza"
"damela, damela.....que me des la pistola!!"
"te vas a matar!"
"you people are both crazy, how the hell am I going to explain this to my husband?"

Interpretando o Leitor

Todos os anos a Academia nomeia para as categorias principais um filme mais intimista, por via de regra com grandes actores, num baixo orçamento, em que o show-off cede perante a qualidade; ou por outra, o show-off aqui é a qualidade do material de base, a adaptação do mesmo e o interesse que nos agarra.
É facto que o Holocausto, bem como os eventos que se lhe sguiram, ainda hoje provocam em nós um magnetismo indescritível. Não é de entender como um fascínio mórbido, antes porque foi um dos momentos mais importantes da História mundial, cujas ramificações para sempre se farão notar, e que já mais poderemos contornar.
O que o Leitor faz não é redefinir a abordagem ao tema, mas antes contar uma história intemporal numa época de adversidade. A maneira como o filme é conduzido é também fora de série, pela mão de Stephen Daldry, que conseguiu a proeza de ter sido nomeado três vezes ao Óscar de Melhor Realizador pelos seus três únicos filmes. Sendo um filme bastante diferente d' As Horas, que para mim continua a ser de longe o seu melhor, notamos que a mestria de ambos tem a mesma assinatura. O Leitor é de facto um filme de excepção, contrariando aqueles que se surpreendaram aquando da sua nomeação a 5 Óscars, incluindo o de melhor filme.

The Reader Suite