Está de moda, ao que parece, o amor acontecer em Itália. O cinema, pelo menos, assim o tem entendido, porque nos últimos tempos, os filmes que estão em exibição que abordam esta temática, têm Itália como mais do que um pano de fundo, mas como uma personagem. Na semana que passou, tive a oportunidade de ver dois desses filmes que, tendo como temática central a mesma, têm uma abordagem diametralmente oposta, seja na língua, no elenco, na estética ou na qualidade.
Io Sono l'Amore - Eu Sou o AmorAmbientado na década passada, a história desenrola-se no seio de uma família milanesa da alta burguesia, que além de uma fachada de perfeição, esconde intrigas familiares, invejas e mentiras que contribuem para uma inevitável ruptura. A nível de marketing, o facto de Tilda Swintom estar envolvida ajudou, tendo participado não só como actriz, mas também como produtora de um filme totalmente em italiano, idioma que não falava por completo antes das filmagens. Mais do que o mediatismo da oscarizada actriz principal, Eu Sou o Amor destaca-se pela marcada solidez da narrativa, a (in)segurança das personagens e a abordagem adulta do tema da aparente família perfeita. Esteticamente, o filme é irrepreensível, criando um paralelismo necessário com uma história claustrofóbica numa aparente imensidão; se bem que esta é simultâneamente uma fraqueza do filme, por Guadagnino, a dada altura, se perder demasiado em tiques estilísticos que em nada adiantam a narrativa.
Ainda assim, é bom ver que não raras vezes, pequenos grandes filmes como este estão acessíveis a todos aqueles que estejam na predisposição de analisar uma história pesada, que permanece no pensamento horas depois de ter acabado.
Eat Pray Love - Comer, Orar, AmarAqui está um filme que torna injusta a generalização que fazemos à sua história. Baseado no Bestseller auto biográfico de Elizabeth Gilbert, Eat Pray Love, segue a história de uma mulher desiludida com a sua vida, que decide largar tudo, para ir para Itália, Índia e Bali para Comer, Orar e Amar. Com Julia Roberts à cabeça, Ryan Murphy ao leme e uma história com uma reputação que a precede, este tinha tudo para ser um filme que definia o exemplo do seu género. Não define; apenas faz pensar que o talento envolvido não se terá apercebido que havia aqui muita coisa que não estava a funcionar. As personagens são de uma funcionalidade constrangedora, os eventos são desconfortavelmente previsíveis e o esquematismo de toda a história faz-nos questionar, por um lado, a dose de ficção floreada contida no livro supostamente autobiográfico, ou por outro, o porquê de tanto êxito de uma história tão vazia.
Terminar o filme com o segmento de Roma seria uma contradição ao objectivo da personagem, bem como ao propósito do livro; mas arrasta-la fez perder o suportável interesse da primeira parte. Ryan Murphy continua a demonstrar os seus rasgos de genialidade na maneira como filma (também ajudado pela soberba fotografia de Robert Richardson) e em alguns diálogos, tal como já fazia na sua singular e imperdível série Nip/Tuck. Se a empatia que temos pelos envolvidos é considerável, essa nem sempre se traduz em sucesso garantido - este filme mostra exactamente isso: não basta a boa vontade e a predisposição para passar por cima dos chavões do costume, era necessário que estes não abundassem e desafiassem a nossa paciência.
Dog Days are Over