
Para quem não viu o filme a descrição pode ser feita em poucas frases, ou mesmo em nenhuma. Esquematizar o enredo retira o próprio objectivo do filme, da mesma forma que saber o final de antemão não serve de nada, pois não há um elemento-chave que lhe retire o interesse. Inception aborda a natureza inexplicável dos sonhos, o elemento que por vezes nos distancia da percepção da realidade.
Antes de ser uma historia individualmente original e inovadora, não a podemos dissociar do contexto da obra de Nolan em que se insere. Tendo em mente que Nolan fez renascer o universo de Batman, não explicando aquela atmosfera, mas humanizando as personagens, dotando-as de sentimentos, raízes e motivações. Com Memento, Prestige e Inception, Nolan fez às personagens exactamente o mesmo criando-lhes um universo emocional próprio, autónomo da história em que se inserem.
O eficaz e interessante tema do passado, presente e futuro, embora omnipresente, não é usado como manobra cronológica na história; as personagens vivem no agora, ainda que paralelo. Se a ideia de "A Origem" foi concebida há dez anos, e desenvolvida desde então, só mostra a complexidade do tema e a quantidade de detalhe necessário. Não acho que demoraremos outros dez anos a arranjar uma explicação consensual para o filme, porque não a há. O cliffhanger em que Nolan nos deixa serve exactamente para isso: para ficarmos no mesmo ponto que estamos num sonho, um estado de dúvida permanente, com laivos de realidade e fantasia que, em doses variáveis, nos dá maior ou menor certeza.

1 comentário:
Concordo em absoluto! Parabéns pelo blog.
Ab
/ch
Enviar um comentário