
Qual a melhor das adaptações cinematográficas de Harry Potter?
Não vamos nunca encontrar uma uma resposta que seja, obviamente líquida. Contamos já 7 filmes de 8, com abordagens, realizadores e equipas técnicas diferentes que vieram trazer adaptações mais ou menos fiéis e mais ou menos negras ao material de base.
O que é facto é que a saga de Harry Potter há muito que deixou de ser dirigida ao público infantil. Se há 9 anos atrás, altura da primeira adaptação, a temática e o público alvo enquadravam-na no género infantil, o crescimento da personagem, os desenvolvimentos da história e a necessidade de adaptação da temática afastaram-na desse género inicial. O público alvo de Potter é já adulto, assim como o restante público que, sendo mais velho, acabou por viciar-se no universo criado por J.K. Rowling.
Esta primeira parte d'Os Talismãs da Morte não está, pela primeira vez na série, absolutamente restringida pelo forçoso corte de enredos na adaptação cinematográfica. O último livro da série é necessária e obviamente o mais complexo e exigia um tratamento mais cuidado. A adaptação em duas partes, não era por isso, e contrariamente às opiniões destrutivas, uma manobra para auferir mais uns cobres; é uma necessidade - condensar-se toda a história num só filme, fragilizaria uma história, que por estar a terminar, não pode deixar àqueles que não a leram, pontas soltas ou partes inacabadas.
Desde que o desconhecido David Yates ingressou na série, esta tomou um rumo mais intimista, mantendo o tom negro (introduzido por Cuarón em O Prisioneiro de Azkaban) que era inevitável, dados os conflitos internos da personagem principal, e a conjuntura da história criada por um medo generalizado a uma personagem, poucas vezes vista, mas cuja fama está sempre presente. Esta primeira parte d'Os Talismãs da Morte será por isso a mais intimista e parada das adaptações, não sendo isso, de todo, um defeito, antes pelo contrário. Para que se percebam, de facto, as motivações de cada um, é necessária que seja criada essa atmosfera envolvente.
Visualmente, e como tem sido apanágio da série, o filme é irrepreensível; a direcção artistica do veterano Stuart Craig é irreprensível, bem como a fotografia do português Eduardo Serra. Mas o ponto alto do filme, sem qualquer tipo de dúvida, é uma sequência de cerca de 5 minutos, em que é contada uma lenda do mundo da magia, não em acção real, mas numa animação de computador gótica, muito ao estilo de Tim Burton e Henry Selick, que destoando do mundo de Potter, destaca-se por essa característica.
À semelhança de qualquer dos outros filmes de Potter, este não é um filme autónomo. Está inserido numa sequência que não acompanharão os estranhos a este universo, e é o mais inacabado dos filmes por terminar a meio de uma história.
Que seria uma tortura para todos (nós) os fãs da saga, não era propriamente uma novidade, mas esperar até Julho pela continuidade desta magnífica conclusão é um exercício a que o cinema não nos punha à prova há muito tempo.
The Oblivation