O Dialecto está de cara lavada. Quer dizer, primeiro que tudo, não tem cara para lavar, tem uma imagem a renovar. Talvez não tenha passado tempo suficiente para justificar esta alteração, mas achei que, em todo o caso, o devia fazer. Fiel ao seu nome, e à minha missão, o dialecto continua a palrar as suas baboseiras, sujeitas e ansiosas de críticas, por crescer ser o mais importante. A linguagem é a mesma(não cedo ao acordo), os assuntos são os do costume, os leitores esperam-se ser os mesmos, e com sorte outros tantos que consiga entusiasmar.
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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Cinema "nos antípodas" - I

Tron: O Legado

Não é a primeira vez que aqui falo do meu entusiasmo juvenil com o mais recente filme de ficção científica da Disney. Aproveitando a bagagem de Jeff Bridges e a sua vitória nos Óscars do ano passado, a Disney achou por bem ir buscar um seu filme de culto, de modesto sucesso dos anos 80, filmá-lo com as mais recentes tecnologias 3D e os efeitos especiais mais caros do mercado. Qualquer fã de ficção científica que se preze, ao ver o trailer há quase um ano atrás, ficou em pulgas. Mesmo sabendo que não podíamos esperar algo na linha de Blade Runner ou Minority Report, o frenesim visual e sonoro bem como o factor guilty pleasure estaria assegurado.
O objectivo a que se propôs tinha tudo para correr mal; mas felizmente tudo correu bem. Enquanto filme de serão cinematográfico tardio, é do melhor que o género nos tem dado nos últimos tempos. O desconhecido Joseph Kosinsky revela um apurado sentido visual, tomando um melhor partido de um argumento raquítico e confuso e transformando-o numa aventura eficaz, divertida e imparável. Além da irrepreensível produção visual o que mais aqui se destaca é, obviamente, a banda sonora do duo francês Daft Punk. Já falei dos merecidos e insuficientes méritos dessa composição no post anterior, mas não é demais reiterar. Como qualquer filme de grande produção na Hollywood dos dias de hoje, os produtores começam imediatamente a pensar em trilogias, veja-se o caso da saga de os Piratas das Caraíbas ou da prequela de Alien que Ridley Scott está a preparar. Se é disso que Hollywood precisa, é duvidoso, atendendo à crise de ideias que actualmente corre, mas se é bem-vindo do ponto de vista financeiro e de entretenimento leve, isso já é outra história. Tron, o Legado foi, sem dúvida.



The A-Team – Esquadrão Classe A


A história, a série e os personagens dispensam de qualquer tipo de apresentação. A A-Team foi um dos maiores ícones que a década de 80 trouxe para a cultura mundial. Numa altura em que famílias inteiras se sentavam à frente da televisão para, semanalmente, assistirem a um novo episódio de séries como MacGyver ou Quem Sai aos Seus, o Esquadrão Classe A tinha uma igual fama e legião de seguidores. A adaptação ao cinema com um robusto orçamento tardou (por disputas legais e de calendário), mas não falhou, tendo chegado esta, pela mão do serviçal Joe Carnahan.
Se tinha algumas reservas a propósito do projecto, a leveza e a despreocupação da abordagem neste caso resultaram na perfeição. Um casting perfeito, um elenco robusto e consistente, um pulso firme e eficaz na realização e uma constante sensação de divertimento era exactamente aquilo que se pedia. Longe de ser o filme mais perfeito de sempre, e também não sendo o melhor do género, funciona muito bem enquanto distracção e respeito pelo produto original. Nunca, na corrente de adaptações de séries de culto dos últimos tempos, se pode ser absolutamente idêntico na abordagem ao material de base, mas sendo-se concordante ou respeitador, é já um grande passo, ainda que saibamos, de antemão, que não é possível agradar a gregos e a troianos.



Chloe


Chegado ao terceiro filme que vi, e que agora analiso, reparo que todos eles têm por base material já publicado pela mão de outros cineastas. No caso de Chloe, estamos perante um remake do filme francês de 2004 Nathalie, que conheceu uma limitada distribuição nos Estados Unidos, cuja receita em pré-reservas de bilhetes pagou o orçamento de 10 milhões de dólares. Mais importante que qualificá-lo como thriller psicológico ou drama familiar, do ponto de vista cinematográfico, Chloe é um filme de autor. Atom Egoyan, é daqueles realizadores cuja fama o precede. Além de uma fortíssima componente estilística, que vai desde o significado de certos planos visuais ao uso de certas cores ou objectos, as acções, expressões e maneirismos dos seus personagens dizem mais que os seus diálogos. Um trio de actores que exemplarmente encarna as personagens dando-lhes a necessária projecção sentimental e fundo dramático, confere uma completude a um projecto que assenta nos seus intérpretes.
Chloe atraiu-me, imediatamente com o seu trailer. Em vez das montagens habituais, um excerto de dois minutos de uma complexa cena, publicitava o filme. Se este é um projecto autoral e intimista, então a coerência do projecto partiu logo da maneira como foi vendido. Durante o filme, os acontecimentos vão desencadeando-se de forma mais ou menos, chamemos-lhe, “crível”, mas uma vez terminado, é daqueles filmes que permanece na memória, dando azo a discussões ainda que a história fique plenamente resolvida.

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